domingo, 7 de março de 2010

Estadias prolongadas

Todos temos uma missão na vida e a minha consiste em ler todos os livros de ficção cujo título inclua a palavra hotel. Como todas as coisas que são realmente essenciais na vida, a minha missão começou por acaso. Calhou, há muitos anos atrás, ter feito duas estadias literárias prolongadas em dois hoteis. O primeiro foi o "Hotel New Hampshire" do John Irving e, logo de seguida, o "Hotel Lusitano" do Rui Zink. Tendo achado piada à coincidência pensei que seria giro ler todos os livros de ficção em que o título tivesse a palavra hotel. Anos volvidos, ainda continuo a coleccionar hoteis literários.
Nunca pensei na história como se fosse uma missão, um caminho que forças sobrenaturais me impunham, um objectivo de vida. Bem vistas as coisas, tudo não passa de uma brincadeira, um pequeno delírio experimental literário que, sobretudo, me diverte. Até ao dia, neste recente Novembro, em que estava na "Strand" em Nova Iorque com a minha amiga Patrícia. Estávamos entretidas a ver os livros nas infindáveis estantes quando o meu olho clínico se depara com um hotel desconhecido (Wawona Hotel de Matthew McKay), bem no cimo das prateleiras. Como não lhe chegava pedi que mo passasse e expliquei-lhe a mania que me assola. E foi assim que ela constatou o facto - eu tenho uma missão.
Seja missão ou simplesmente um hábito parvo, o certo é que faz pensar um pouco. Se tivermos que escolher um tema, uma palavra que seja para a nossa vida literária, qual escolheríamos? Essa foi, então, a grande questão daquela noite entre nós, sentadas à mesa de um restaurante etíope que eu não recomendo (a não ser que se esteja de bom humor, como era o nosso caso). A Patrícia também queria uma missão literária e tínhamos que escolher a palavra dela. E toda aquela discussão fez-me pensar na minha opção tomada sem ponderação de espécie alguma há muitos anos atrás. Porquê hoteis?
Hotel é uma boa palava. Gosto muito de hoteis porque, tal como os aeroportos, conseguem reunir o mundo inteiro num pequeno espaço. E como espaço literário tem potencialidades sem fim. Atrás de qualquer porta de quarto de hotel escondem-se milhares de histórias. Cada empregado que circula pelos corredores, recepção, bar e restaurante carrega outros milhares. Quantas vezes já nasceram livros da combinação entre papel, caneta e um quarto de hotel?
Afinal, a minha escolha estava certa.

3 comentários:

  1. Acho o conceito giro. Afinal isso é uma espécie de coleccionismo. Eu tenho a mania de apanhar conchas em todas as praias onde vou, tu apanhas hotéis em livros, bem, é parecido. Quanto ao restaurante etíope, que raio de ideia, isso deve ser bom para quem quer fazer dieta, ou algo que lhe valha!

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  2. Olá Susana!

    É um prazer reencontrar-te aqui depois de te ter encontrado em Ourém.

    È uma bela missão ler hoteis dentro dos livros ou livros dentro de hoteis.
    É uma bela missão ler e escrever.

    Vamos circulando nas leituras por aqui, no encontrão ou quem sabe o retiro de Junho.


    Beijocas

    Inês (Sara)

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  3. Olá Sara, que bom ver-te! Beijos e vemo-nos no em Ourém, em Abril, no Encontrão.

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