domingo, 14 de março de 2010

I remember you well in the Chelsea Hotel...

Não, não é livro, é o primeiro verso da canção do Leonard Cohen "Chelsea Hotel N.0 2". Mas como tudo o que escreve o homem é poesia, também vale.
O Chelsea Hotel em Nova Iorque é o hotel mais literário do mundo. E não só. Não me venham falar do Hotel de Las Letras em Madrid e de outros dentro do mesmo género. Têm o seu charme mas, comparando com o Chelsea, são coisinhas para turista ver. Como o Chelsea Hotel não existe outro.
Infelizmente só lá fui uma vez e fiquei-me pelo lobby. O edifício, lindo, impressiona. A fotografia que vêm neste blogue é de um pormenor da fachada tirada no dia em que lá fui (pela minha amiga Paulinha em Julho de 2008). Só de ver o cartaz a apelar ao regresso dos bardos dá logo vontade fazer a mudança e instalarmo-nos num dos quartos. E depois a entrada e a recepção, as obras de arte ali atiradas ao acaso e a cena mais insólita que assisti numa recepção de um hotel. Um homem novo, certamente para fazer o check-out, chega-se à recepção levando apenas na mão uns ténis velhos e imundos. A única bagagem. Um personagem. A partir deste ponto qualquer história é possível e a caneta voa. Nada mais natural, aquele é o hotel onde todas as coisas acontecem.
A arte converge toda para dentro daquelas paredes. Não tenho qualquer dúvida que até os ténis do sujeito, durante a estadia, terão escrito um livro, composto uma música ou pintado um quadro. Ou simplesmente divagado sobre a vida ou vivido a divagar, também formas de arte ou, pelo menos, o seu ponto de partida. Criatividade sob todas as formas, ou não fosse aquele o lugar onde dizem que o Sid Vicious matou a Nancy, o Charles R. Jackson se matou e o Dylan Thomas saiu dali para morrer no hospital depois da sua última bebedeira. Até a morte ali parece criativa.
Por outro lado, foi ali que Arthur C. Clarke escreveu o "2001, Odisseia no Espaço". Já é motivo mais que suficiente para venerar o espaço. Poderia eu enumerar os que por lá passaram e/ou viveram? Podia e posso só alguns para aguçar o dente a uma estadia: Mark Twain, Dylan Thomas, Arthur C. Clarke, William Burroughs, Arthur Miller, Gore Vidal, Jack Kerouac, Simone de Beauvoir, Jean-Paul Sartre, Thomas Wolfe, Charles Bukowsky, Leonard Cohen, and so on. Quem não quer conviver com as paredes que conviveram com toda esta gente?
Um dia ainda lá vou novamente. E desta é mesmo para ficar e escrever ou simplesmente para esperar que os bardos cheguem.
That´s all, I don't think of you that often...

(Pequena nota: a referência a Bard na fotografia não é uma referência literal aos bardos mas sim uma referência a Stanley Bard, o mítico manager do hotel desde tempos imemoriais e que foi destituído em 2007. Até nos protestos ali se consegue ser criativo)

1 comentário:

  1. Raios, estamos em abril e não sai mais nada. Atão, não há nada de novo? Hoteis, livros, uma mina de histórias... a criada entrou no quarto. Indecisa, apesar da teima, acabou por vencer o vicio de mulher e atreveu-se a uma espreitadela. Ficou pregada em palavras, esqueceu deveres, percorreu páginas de um calendário inventado. Acordou sobressaltada pelo atraso das lides "meu deus, tenho o jorge à espera para almoçar e ainda me falta dois quartos". Leu o nome do autor: Cabaço... pensou, que belo nome!

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